terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Tavapensandoaqui na feira livre

Tavapensandoaqui na feira livre. Toda terça-feira tem feira livre na frente do meu apartamento. Eu passo a madrugada de terça escutando a batida das tábuas no chão, os motores dos caminhões acelerando e dando marcha a ré e apitando aquela buzina de alerta. Escuto os metais batendo uns nos outros, os martelos batendo nos pregos e os gritos dos feirantes para montagem das barracas. Gostaria de ouvir os gritos dos feirantes dando a martelada no próprio dedo, mas acho que eles têm experiência e não vou ouvir isso tão cedo. Mas até acostumei. Com o tempo você acaba acostumando com o barulho. Já morei perto da linha da máquina (linguagem santista que significa ferrovia) no canal dois (em Santos as referencias são os canais) e no começo eu escutava os trens. Depois não os percebia mais. Deve acontecer a mesma coisa com quem mora perto de aeroporto. Quando temos feriado em São Paulo na terça-feira e eu estou em casa eu costumo descer para a rua por volta das onze da manhã para comer um pastel e um caldo de cana. Aprendi que nos feriados algumas barracas não são montadas e muitas famílias ficam em casa e então o pastel acaba mais cedo. Uma vez eu quis almoçar pastel e resolvi sair perto das 13h e não havia mais pasteis. Aprendida a lição eu agora saio antes do almoço e como o meu pastel e o caldo de cana em forma de aperitivo antes de almoçar mais tarde. Eu então procuro uma das barracas que estejam com uma mesinha liberada para eu poder saborear com tranquilidade. Acabei observando o movimento e lembrando-me dos tempos de criança. Era chato “demais” fazer feira com a mãe para não dizer coisa pior. Os carrinhos de feira ainda existem. Quando eu era criança esses carrinhos sempre encontravam os meus dedos dos pés e os meus tornozelos e calcanhares. Não sei como não peguei tétano andando na feira quando criança. Acho que era por causa da vacina que a gente tomava. Hoje existem os carrinhos fechados e com rodas plásticas, mas ainda há outros mais velhos com suas grades e rodas de metal enferrujado. As rodas enferrujadas presas com pedaços de arames sem proteção ainda ameaçam os tornozelos das pessoas. Também existem velhos, quer dizer, gente da melhor idade com sacolas que andam lentamente e param em frente das barracas no meio da passagem interrompendo o fluxo das pessoas. Feirante que berra o tempo todo sem respeitar o morador da frente da sua barraca também continua a existir. Tem um feirante que quebra o galho de uma pequena árvore do nosso prédio e não adianta pedir para ele respeitar a natureza porque o indivíduo está pouco se lixando pela árvore e pelo patrimônio do prédio. Bom, quase ao final da feira achei a mesa livre e sentei-me pedindo um pastel de carne. Virei para o lado do caldo de cana e pedi o caldo de cana com limão. Ao meu lado um casal de idosos chegou. A idosa se dirigiu para a barraca do caldo falando para o idoso se ele queria guaraná, pois ela ia buscar. Quem toma guaraná com pastel? Achei que a velha estava doida. Acertei. O velho retrucou dizendo que queria caldo. Ela continuou dizendo então que ia pegar o guaraná e deu as costas a ele. Ele repetiu que queria caldo. Ela continuou como se nada tivesse acontecido repetindo que ia pegar o guaraná. Ele falava baixo. Ela parecia surda. Eu quase interferi na conversa, mas estou me treinando para não dar palpite na vida dos outros (creiam, é difícil). Até que ela se virou para ele depois de repetir três vezes que ia pegar guaraná e ouviu que ele queria caldo. Foi pedir. Chegou então o meu pedido. Peguei o copinho plástico de café com molho vinagrete para colocar na carne do pastel. Na mesa tinha pimenta, molho shoyu, mostarda, maionese e pimenta. Babei e passei a língua nos lábios. Mas antes de comer e sabendo que o pastel estava muito quente eu tirei uma foto para postar na rede social e fazer inveja para as amigas que vivem de regime. Eu sou magro e sofro bullying dos amigos por comer essas especialidades “engordantes”. Mal sabem os sacrifícios que faço para me manter na linha. Em seguida duas senhoras chegaram e pediram caldo na barraca do caldo. Falaram para a mulher que estava servindo que não a conheciam. Ela justificou que os proprietários viajaram e ela estava ali para cobrir a ausência. Descobri que as barracas podem ter donos alternativos de vez em quando. A terceirização chegou à feira livre. No final de semana passado um amigo recusou comprar um apartamento porque ficava na rua de uma feira livre. Ele defendeu a extinção da feira livre. Disse que só faz sujeira, barulho e não cabe mais ter uma atividade assim nos dias de hoje. Discordei. Defendi bravamente a manutenção dos feirantes na vida da gente. Será que agi corretamente? Será que a feira livre está com os dias contados? Tava pensando aqui...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Tavapensandoaqui que a leitora quer saber

Tavapensandoaqui que a leitora quer saber. Alguns anos atrás eu trabalhava ao lado de um amigo e conversávamos sobre tudo. Bom papo sempre. Numa época em que por coincidência nós dois estávamos fazendo exames de saúde daqueles para verificar uma dorzinha aqui e outra ali, falamos que a espera pelo atendimento era muito chata e falei para ele que eu costumava me divertir lendo as revistas de modas e fofocas. Meu interesse era nas colunas de conselhos sentimentais. Ele achou engraçado e também começou a se distrair com as revistas. Dávamos boas risadas com os questionamentos das leitoras. Eu e o amigo conversávamos sobre trabalho por um aplicativo interno estilo Whatsapp e algumas vezes o utilizávamos para conversas mais amenas. Algumas vezes ele me chamava dizendo “a leitora quer saber”. Eu respondia “manda”. Ele dizia “a leitora escreve: Eu saí com um cara e ele prometeu me ligar no dia seguinte e faz três meses que ele não me liga. Será que ele não gosta de mim? Assinado: Iludida do Grajaú”. Eu respondia “Cara Iludida, o celular do seu namorado extraviou ou foi roubado. Mas pode ter certeza que ele deve estar procurando desesperadamente por você. Todo homem cumpre a promessa que faz. Se ele prometeu ligar ele vai te ligar. Espere mais um ano e meio para ter certeza que ele não vai mais te achar. Mas ele te ama. Assinado: Guru do Amor”. Passava um tempo e surgia outra dúvida da leitora. Meu amigo me chamava de novo “a leitora quer saber”. Eu respondia “manda”. Ele dizia “a leitora escreve: Caro Guru do Amor, meu marido tem falado o nome de Paula enquanto dorme. Meu nome não é Paula. Quando eu o acordo ele diz que não se lembra de nada. Tenho desconfiança de que ele está me traindo. O que me aconselha? Assinado: Desconfiada da ZL”. Eu respondia “Cara Desconfiada não se torture, pois todo homem é fiel. Na verdade o seu nome poderia ser Paula em uma vida passada. Alguns homens tem o poder de acessar memórias de vidas passadas. Confie no seu marido, ele é um santo e tem este poder especial. Assinado: Guru do Amor”. Em outro dia aparecia mais dúvida da leitora. Meu amigo novamente me chamava “a leitora quer saber”. Eu respondia “manda”. Ele dizia “a leitora escreve: Caro Guru, meu marido tem chegado muito tarde dizendo que tem muito serviço no escritório. Eu faço a comida com todo o carinho, mas ele não tem vontade de comer. Será que ele está comendo fora? Assinado: Cozinheira Zona Sul”. Eu respondia “Cara Cozinheira, ele está comendo fora com certeza. Eu entendo disso porque tenho muito serviço aqui na revista. Quando é preciso ficar até mais tarde no serviço os homens costumam pedir pizza para poder suportar o trabalho duro. Coitado do seu marido tem que comer pedaços de pizza fria e borrachuda sonhando com o seu maravilhoso jantar. Mas ele se sacrifica para trazer o sustento para o lar. Abrace-o com todo o carinho quando ele chegar do árduo dia de trabalho. Todo homem que trabalha duro precisa de carinho e compreensão da dedicada esposa. Assinado: Guru do Amor”. Uma nova dúvida da leitora e ele me chamava “a leitora quer saber”. Eu dizia “manda”. Ele dizia “a leitora escreve: Caro Guru, meu namorado e eu estamos 17 anos juntos e sempre que falo em casamento ele me diz que vamos nos casar assim que a situação melhorar. Estou com quase 40 anos e eu tenho medo que ele não queira se casar. Estou ficando sem paciência. O que faço? Assinado: Impaciente do Irajá”. Eu respondia “Cara Impaciente, a situação não está fácil para ninguém. Não se desespere. Espere mais uns 12 anos para ver se a situação melhora. Até lá trate seu namorado com bastante carinho para ele continuar feliz ao seu lado e não fale em casamento porque ele pode ficar bravo com você. Assinado: Guru do Amor”. E assim a gente ia levando a árdua rotina do trabalho na empresa e aproveitando para fazer um serviço de utilidade pública esclarecendo as dúvidas das leitoras. E você? Qual a sua dúvida? Mande sua pergunta para o correio sentimental e receba a orientação profissional do Guru do Amor. Tava pensando aqui...