Tavapensandoaqui em fazer
uma declaração. Do imposto de renda. Tem coisa mais chata? Pagamentos
efetuados. Como assim? Paguei um monte de cafezinhos, só isso dá quase todo o
meu salário anual.
Temos 60 dias para fazer a declaração e entregamos no último
dia. Quer dizer, nem todo mundo, é claro. Alguns entregam no penúltimo dia. Alguma
razão deve existir para isso. Eu sei qual é. É porque é chato.
Primeiro dia: reportagem
na TV informando que os declarantes não conseguem transmitir a declaração. Oi?
Já? A pessoa no primeiro dia e na primeira hora e no primeiro minuto quer
entregar a declaração? Gente doida.
Bem feito, se ferraram. Na reportagem da TV
e do Rádio a notícia de que a situação agora está normalizada só sai às 10h30
da manhã informando que a Receita Federal teve problemas no recebimento das
declarações. Eu penso “tenho que fazer meu IR”.
Décimo dia: penso “puxa,
preciso fazer meu IR”. Vigésimo dia: penso “puxa, preciso fazer meu IR”.
Trigésimo dia: penso “puxa, já passou um mês, preciso fazer meu IR”.
Trigésimo
quinto dia: pergunto para a mulher se todos os comprovantes do IR já chegaram e
ela confirma. Penso: “puxa, preciso fazer meu IR”. Quadragésimo dia. Passo na
administradora para pegar o extrato do aluguel. Penso: “puxa, preciso fazer meu
IR hoje”. Chego a casa para sentar no computador e baixar o programa da Receita.
Desisto e desligo, porque tenho que levar o cachorro para passear. Penso:
“puxa, eu não tenho um cachorro”. Assisto TV.
Quadragésimo sexto dia: penso
“puxa, vou fazer o IR neste final de semana”. Sábado teve a festa da formatura
da filha, domingo eu acordo acabado. Quadragésimo nono dia: penso “deste final
de semana não passa. Puxa, preciso fazer meu IR”. Quinquagésimo terceiro dia:
penso “puxa, desta semana não passa”.
Quinquagésimo quinto dia. Descubro que o
dia final de entregar a declaração é sexta-feira dia 29 e não no sábado dia 30.
O qüinquagésimo quinto dia transforma-se num passe de mágica tal qual o vestido
da Cinderela e seus sapatinhos de cristal mais a abóbora, no qüinquagésimo
sexto dia. Isso sim é dizer que o tempo passa voando.
Baixo o programa da
Receita. Ao instalar diz que é de origem desconhecida e o antivírus reclama.
Faço novamente e o antivírus enche o saco novamente. Ligo o “fod...” quer dizer,
“o seja o que Deus quiser” e chega por hoje, já fiz muito. Penso “amanhã tenho
aula e aniversário da amiga, não posso faltar de jeito nenhum, vou fazer tudo
depois de amanhã”.
Quinquagésimo oitavo dia: passo a noite preenchendo os
dados, viro a madrugada e descubro que falta o saldo da conta corrente da
mulher. E ela disse que tudo estava OK. Vou dormir, pois já é o quinquagésimo nono
dia.
Acordo e peço para a mulher buscar a informação. Finalizo as declarações. Entrego
durante o dia, sem sobressaltos. Sexagésimo dia. Penso “vou imprimir a DARF
para pagar”. A tinta da impressora acaba. Ainda bem que basta pagar pelo código
de barras.
Tempos modernos. Penso “ano que vem vou entregar a declaração logo
no início”. Penso “todo ano eu penso isso”. Tava pensando aqui...