domingo, 29 de maio de 2016

Tavapensandoaqui no “Entrevistamento”

Tavapensandoaqui no “Entrevistamento”. Esse foi nome do projeto que surgiu lá no plano astral para interação com o plano terrestre. Eles criaram uma empresa fictícia na Terra para recrutar pessoas honestas e sinceras para serem assistentes especiais no plano astral (após morrerem conforme os planos celestiais, claro). 
Na Terra, Arnesto, cujo nome veio da inspiração de uma música famosa, havia sido demitido depois de 30 anos trabalhando numa empresa tradicional. Ele ainda precisava trabalhar mais alguns anos, então foi à luta fazendo o primeiro currículo da vida e enviando-o para a empresa criada pelo plano astral. 
Por ser um cara legal foi selecionado para a entrevista. Entrou no prédio, vestido da forma casual que normalmente ia para o trabalho, com os cabelos em desalinho e barba por fazer. Afinal, eles deveriam gostar dele do jeito que ele era. Ao apertar o botão falso colocado no elevador pela tecnologia astral (chamada de “TA” por lá e não de “TI”) foi direto para o plano astral sem perceber nada. Viva a tecnologia astral criada com a ajuda providencial do Steve Jobs que chegou por lá faz pouco tempo. 
Na entrevista veio a pergunta: “Como você reage nas situações inesperadas?”. Ele era experiente, mas a pergunta veio de supetão. Acabava de ocorrer neste momento uma situação inesperada. Ele deu a resposta gaguejando, repetiu palavras, errou na concordância verbal. Seu olho esquerdo tremeu de nervoso involuntariamente. Ele terminou de falar sem necessariamente ter terminado de responder. O entrevistador partiu para a segunda pergunta e ele respirou fundo para ouvir: “Qual o maior desafio que você já enfrentou?”. Ele vacilou e tentou lembrar o que fazia no serviço e o que poderia servir como resposta e falou: “Uma vez precisei trocar o tonner da máquina copiadora, cheguei a sujar a roupa toda com aquele pó preto”. Feliz com sua resposta ele esperou pela terceira pergunta. ”Qual sua maior motivação?”. Ele respondeu que era receber o salário e programar as próximas férias. E a entrevista terminou com o tradicional aperto de mãos e a promessa de que ele seria informado sobre a aprovação para a vaga. 
Arnesto voltou para o plano terrestre. No plano astral sua entrevista foi tratada com boa, um candidato que falou a verdade nas suas respostas. Nas conversas com amigos, Arnesto percebeu que foi mal na entrevista, falou besteira. Passado algum tempo ajeitou o currículo, usando as dicas dos amigos. 
Nas entrevistas seguintes, ele se apresentou vestido adequadamente. Era outro homem. Para as perguntas padrões ele tinha respostas padrões e conseguiu um novo emprego. No plano astral, ficaram sabendo sobre a contratação do Arnesto e ele então foi descartado, pois não falava mais aquilo que pensava e sim aquilo que os outros queriam ouvir. 
Na época atual com tanta gente procurando por uma nova oportunidade será cada vez mais comum ter pessoas treinadas para falar aquilo que as empresas querem ouvir. Caberá aos entrevistadores a tarefa de descobrir se o candidato tem a aptidão real para a vaga. Após a admissão a pessoa será a mesma de sempre com suas virtudes e defeitos podendo ser a pessoa certa caso seus valores sejam os mesmos valores da empresa. Caso contrário... tava pensando aqui...

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Tavapensandoaqui que sempre cruzo com um colega no trabalho.


(Do livro #tavapensandoaqui) Tavapensandoaqui que sempre cruzo com um colega no trabalho.

Eu não trabalhava diretamente com ele, mas estávamos no mesmo andar e sempre nos víamos. A quantidade de gente que eu conhecia pelo nome no andar era pequena porque não faziam parte da minha equipe. Meu trabalho era escrever sobre a nova rotina que esse cliente deveria seguir após a implantação do projeto e o contato com os colegas deste andar era apenas com as pessoas chaves para o projeto. Mas com esse colega eram mais frequentes os encontros. Num belo dia escutei uma conversa entre ele e entre os colegas que o conheciam e então escutei um nome no meio da conversa e associei ser o seu nome. Rodrigo. Comecei então a chamá-lo pelo nome quando a gente se encontrava. Rodrigo prá cá, Rodrigo prá lá.
Rolavam bons papos de futebol no banheiro enquanto escovamos os dentes. Na copa enquanto rolava um café ou enquanto se fazia a compra de um salgadinho ou refrigerante na máquina automática também corriam boas conversas. Enquanto se folheavam as páginas de um jornal ou revista sempre acabava surgindo um assunto para render uma conversa. Era sobre algum acidente grave ou sobre alguma manchete no caderno de economia.
Bom de papo esse Rodrigo, sujeito legal. Um belo dia chegou o aniversário dele. Quando chega o dia do aniversário dos colaboradores as empresas costumam colocar alguns adereços na mesa da pessoa para que todos possam saber que aquela pessoa é aniversariante. A mesa dele apareceu decorada nesse dia com balões de gás e cataventos coloridos e pensei em levar um abraço ao amigo Rodrigo.
Mas o serviço estava apertado naquele dia. Então o dia passou e acabei perdendo a oportunidade de cumprimentá-lo antes dos companheiros irem até ele com o presente comunitário. Também é praxe nas equipes fazer uma coleta de dinheiro e sempre comprar uma lembrancinha para o aniversariante.
Durante os “parabéns a você, nesta data querida” todos gritaram ao final das palmas: “e para o Alexandre naaaaadaaaaa? Tuuuudooooo! Alexandre! Alexandre! Alexandre!”. Então. Era aniversário do Alexandre, o meu grande amigo que eu chamava de Rodrigo. Pensei em levar meus cumprimentos a ele, pegar um bombom e me desculpar pelo equívoco. Decidi não ir.
Mas acho que vou continuar a chamá-lo de Rodrigo ou evitar falar o nome dele por um tempo e chamá-lo de Alexandre mais para frente como se nada tivesse acontecido. Afinal, se eu for falar com ele agora sobre meu engano vou ser obrigado a informá-lo que não me chamo Toninho. Não quero deixá-lo constrangido. Boa gente esse Alexandre. Vou deixá-lo descobrir meu nome no meu aniversário, que já está quase chegando também. Tava pensando aqui...

domingo, 15 de maio de 2016

Tavapensandoaqui no gênio da lâmpada

Tavapensandoaqui no gênio da lâmpada. Como seria se eu encontrasse um gênio que me permitisse realizar um desejo? Sonhei que certo dia eu caminhava por uma praia deserta na região da Riviera Francesa quando de repente encontrei um artefato brilhante na areia. Abaixei-me para pegá-lo e identifiquei uma lamparina antiga dourada. 
Cheia de areia, esfreguei-a para ver os desenhos que nela estavam estampados. Imediatamente ela ficou brilhante, iluminada e totalmente limpa da areia que a cobria. Esperei pela fumaça saindo de sua ponta para ver um gênio se apresentando e me oferecendo três desejos. Nada. Comecei a revirá-la para lá e para cá. 
Pensei em chacoalhá-la, mas imaginei que se houvesse um gênio morando em seu interior eu iria bagunçar todo o seu lar. Continuei a revirá-la e na sua parte de baixo encontrei um teclado numérico daqueles que tem nas calculadoras. Pouco mais abaixo consegui ler a inscrição: ”digite sua senha”. 
Mais um pouco abaixo encontrei a inscrição: “esqueceu sua senha, digite 3”. Resolvi digitar “3”.  Atrás de mim escutei “Opa, tudo bem?”. Ao me virar encontrei um gênio. Quer dizer, ele estava vestido de gênio, deveria ser um gênio. Ele me entregou um papelzinho que trazia números escritos. Ele me disse: “toma aqui sua senha”. 
Eu perguntei a ele, mas se você está aí, para que eu devo digitar a senha? Ele me disse: “é o procedimento, por favor, digite a senha”. Digitei. Ele na mesma hora me disse: ”ta-ram, faça seu pedido!” Era só o que me faltava, um gênio com senso de humor. 
Eu lhe disse: “um só”? Ele confirmou que houve corte das verbas no ministério da magia, inclusive o ministério estava correndo o risco de ser extinto e fazer parte do ministério da cultura e entretenimento. Ele disse que agora estavam limitando os pedidos para apenas um. Eu retruquei que até a Cinderela havia feito uns cinco pedidos pelo menos, pois ela pediu a carruagem, os cavalos, os cocheiros a roupa e os sapatos que ficaram um pouco largos nos pés dela, diga-se de passagem. 
Ele me informou que essa bondade de fadinha da Cinderela havia causado a suspensão dela lá no reino mágico porque ela gastou mais do que havia sido determinado. Eu me conformei e comecei a pensar no que seria mais importante para eu pedir, sendo que apenas um pedido havia-me sido concedido. 
Um pedido apenas. Imaginei uma Miss Universo a fazer um pedido: “Eu desejo a paz mundial” diria ela. Pensei num tenista pedindo para ser o número um do mundo. Um jogador de futebol pediria ser contratado por um clube chinês. Uma pessoa doente pediria saúde. Uma mãe desejaria a cura de seu filho doente. 
Alguém que sente muita saudade de alguém que já se foi iria pedir pela volta da pessoa amada. Alguém com fome pediria comida. Um desempregado que está à beira de um colapso financeiro deverá pedir por uma oportunidade de emprego. Um político corrupto pediria para nunca ser descoberto. 
Alguém mais folgado pediria muito dinheiro para viver sem trabalhar até o final da vida. Eu acho que meu pedido seria esse último, até porque ficaria barato para o gênio conseguir a verba necessária para eu seguir até o final da vida porque eu já passei da metade do meu prazo de validade. Mas acontece que nada disso aconteceu, acordei e não me decidi até agora qual seria o meu principal desejo. 
Seria ficar rico? Seriam super poderes? Seria ficar imortal? Seria a saúde para terminar a vida com tranqüilidade? Será que ele permitia eu desejar a saúde da minha família toda? Seria alcançar o sucesso? Não consigo me decidir. 
O que será que você pediria se fosse possível fazer um pedido ao gênio? Você tem um desejo que gostaria muito que fosse realizado em um passe de mágica? Tava pensando aqui...

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Tavapensandoaqui na perereca

Tavapensandoaqui na perereca. Uma vez eu perdi a perereca e chorei muito. A perereca era muito cobiçada na década de 60. Acho que hoje é menos cobiçada pelo que eu tenho observado. 
Nessa década em que a perereca da vizinha ficava presa na gaiola, a alta tecnologia da indústria de brinquedos criou um artefato com uma borracha preta muito densa e altamente elástica. Deram a este brinquedo o formato de bola e a batizaram de “Perereca”. Portanto a perereca era uma bola de brinquedo feita com uma borracha dura pra cacete, para usar um termo combinante com a perereca em questão. Nessa época eu era um menino de 7 ou 8 anos cuja única perereca que me importava era a tal bola de borracha. 
Um belo dia meu pai chegou do trabalho trazendo de presente a minha primeira cobiçada perereca. Era raro ganharmos presentes modernos, pois nossa situação financeira não permitia abusos. Mas a perereca era baratinha. 
Morávamos numa casa com quintal e com um espaço na frente que podia ser uma garagem cujo chão era ladrilhado com aquelas cerâmicas vermelhas quebradinhas, muito comum em casas como a nossa. A casa tinha um portão de grade bem baixa que fechava a sua entrada. Não tínhamos carro, o espaço ficava sempre livre. “Sempre livre” me lembra perereca. Deixa prá lá. 
Muitas vezes eu e meu louro ficávamos neste portão andando e cagando para lá e para cá (ele que cagava, que fique claro). Ele falando “dá o pé louro”, eu respondendo “currupaco” e acompanhando-o segurando a sua corrente para ele não fugir. A calçada era larga, a rua era de asfalto e do outro lado tinha um muro enorme que cercava um jardim todo arborizado do Hospital Beneficência Portuguesa, onde nasci (em Santos na Vila Belmiro). Enfim, depois de ganhar o presente do papai e de ser impedido de brincar com a perereca dentro de casa, eu com minha maravilhosa perereca na mão, corri para frente da casa e de frente para a parede frontal levantei o braço o mais alto que pude e enfiei a perereca em direção ao chão de ladrilhos vermelhos. Até pulei ao fazer o movimento. 
A perereca foi de encontro ao chão na maior velocidade! Assim que bateu no chão, foi de encontro à parede frontal da casa na maior velocidade! Assim que quicou na parede subiu a uma altura enorme na maior velocidade! Passou por cima da minha cabeça na maior altura! (hahaha peguei você). Assim que quicou na calçada atrás de mim, pegou a maior altura de novo e foi quicar no meio da rua na maior velocidade! Um encontro fantástico aconteceu nesta hora, quando um carro passava pela rua na maior velocidade! Perereca e automóvel, que de certa forma se atraem, colidiram na maior velocidade! 
E a perereca pegou a maior velocidade e altura sumindo no espaço sideral. Procuramos a maldita perereca pelo quarteirão inteiro entrando até no jardim do hospital para procurá-la e até hoje eu estou a procura da minha perereca. Eu até achei outra perereca mais tarde, mas aquela perereca eu nunca mais encontrei. E você? 
Já teve uma perereca que perdeu e sente muito até os dias de hoje? Eu tenho. Tava pensando aqui...