terça-feira, 26 de julho de 2016

Tavapensandoaqui nas Olimpíadas Rio 2016

Tavapensandoaqui nas Olimpíadas Rio 2016. Escrevo isso faltando uns 10 dias para iniciar os jogos. As obras da Vila Olímpica não terminaram, as delegações que chegaram estão saindo e conseguindo hospedagem fora para dar conforto para seus atletas. Ouvi notícias de que houve desistências de mais de 90 mil turistas, em virtude das ameaças de violência nas ruas, de atentados e outras ameaças que estão literalmente no ar, como é o caso do mosquito da dengue. Então deverá sobrar lugar para instalar os atletas fora da Vila Olímpica. Esperteza brasileira, pensando “vamos deixar as obras inacabadas para alugar os apartamentos dos hotéis que ficaram vagos”. Quem se mudou um dia para um local recém construído (casa ou apartamento) sabe que quando a gente chega ao local são inúmeras as reclamações. As portas não fecham, nem todas as fechaduras funcionam, as torneiras pingam, os interruptores de luzes apresentam problemas, os restos de cimento nos azulejos são difíceis de retirar, as portas e gavetas e portas dos armários precisam de ajustes. Minha última mudança ocorreu faz 15 anos, talvez as construções mais recentes tenham melhorado um pouco a qualidade da entrega. Não sei se as obras do Rio irão terminar a tempo. Há diversos exemplos de obras terminadas em cima da hora em eventos deste porte, há exemplos de gastos enormes para construir as instalações destes lugares, etc. Em Sidney, Austrália, na Olimpíada de lá, as obras também não terminaram no prazo. Jornalistas e atletas que chegaram para se instalar na Vila Olímpica também tiveram que arrumar outro local para ficar e poucos dias depois puderam se instalar na Vila, com a obra terminada em cima da hora. O que e gente não costuma analisar, é que um evento deste porte é motivo de orgulho para um país. Muita gente gosta. As mesmas reclamações foram feitas durante a copa do mundo de futebol no Brasil em 2014. Pelo elogio dos turistas estrangeiros à recepção calorosa do nosso povo e outros depoimentos favoráveis que eu mesmo colhi dos garçons e comerciantes em geral, quando visitei o Rio de Janeiro com meus parentes da Venezuela logo depois dessa copa, eu concluí que nossa copa foi um sucesso. Minha cunhada viajou o Brasil com os filhos e só tem elogios. Esqueça o jogo da Alemanha 7 x 1 no Brasil. Outras seleções deram vexame também. Um evento assim tão grande movimenta a economia. Milhares de trabalhadores da região tiveram o seu sustento retirado do trabalho executado para esta Olimpíada. Tem obras maravilhosas feitas para este evento que serão muito admiradas depois que tudo terminar. O comércio deverá faturar muito, garantindo mais empregos e sustentando muita gente também. Milhares de profissionais da mídia são acionados e terão seus empregos garantidos durante esse evento. Milhares de atletas e para-atletas se preparam durante anos e sonham em participar de uma Olimpíada. O mundo assiste, os patrocinadores pagam fortunas para aparecer e divulgar suas marcas e dar mais empregos para quem trabalha para eles. Agora, finalizando, se as obras custaram muito mais do que deveriam, se houve roubo e superfaturamento nos custos das obras e tantas outras questões envolvendo a roubalheira que está instalada no nosso poder público, na nossa política, essa história a gente tem que resolver aprendendo a votar em quem realmente merece. Tava pensando aqui...

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Tavapensandoaqui que perdi a estação onde eu devia descer

Um ano faz que me perdi na Itália. Acompanhe a crônica desse dia, que também está no meu livro. #tavapensandoaqui que perdi a estação onde eu devia descer. Voltávamos para Verona ao final da tarde após a visita à Veneza. Viagem curta de trem para ser feita em menos de uma hora.
Cochilei um pouco, eu estava com a garganta seca e quando acordei fui ao vagão de café, 5 vagões até lá. Tomando café o trem parou. Achei legal, tomei café sem balanço do trem. Dirigi-me de volta ao meu vagão com calma. Afinal na ida, havia acontecido a mesma parada enquanto eu tomava café e não era a estação de Veneza.
Passei pelo banco da minha família e elas não estavam, estavam duas garotas. Corri para a porta para conferir o número do vagão. Quando pensei em ver o nome da estação, a porta do trem fechou. Olhei para fora já com o trem em movimento e vi que a mulher e a filha já estavam na estação com as mochilas. Era a estação de Verona onde eu deveria descer. Bati no vidro gritando e elas não me viram.
Fiquei tranquilo como eu sempre sou e só pensei: “fudeu”. Bom, eu estava com documentos e dinheiro então parti para o plano A: procurar o comissário, descer na próxima, comprar bilhete, pegar Wi-Fi na lanchonete, avisar a família e tomar outro café ou cerveja, dependendo do tempo de espera e terminar voltando ao hotel.
A minha família neste caso já deveria estar de volta no hotel e com Wi-Fi disponível para ler minha futura mensagem. Se tudo fosse rapidinho esse era o plano, senão eu ia para o plano B: ligar a banda do telefone 3g (torcer para funcionar) e avisar direto, desde que a filha também fizesse isso.
Decidi pelo plano “A”. Minha filha já havia acionado o plano “B” ou seja, já tinha ligado o 3g e depois me disse que era ruim (espertinha ela), mas elas acabaram indo para o hotel assim que perceberam que eu havia ficado no trem, para conectar o Wi-Fi do hotel e esperar por notícias.
Encontrei o comissário que foi muito legal comigo e disse que na estação seguinte PESCHIERA (menos de 15min da estação Verona) na plataforma 1 havia um trem que voltaria para Verona.
Chegamos à estação e ajudei uma senhora a descer com a mala para mostrar ao comissário que eu era um cara legal e que ele tinha ajudado um bom menino.
Bilhete compra-se em máquinas, preço 3,30 euros e me faltava 1 euro em moeda. Nós compramos os bilhetes de volta de Veneza nessas máquinas e eu tinha aprendido a usá-las. Eu não quis colocar uma nota de 20 na máquina. O próximo trem sairia em 40 minutos.
Dirigi-me à lanchonete para pedir um café com uma nota de 20 euros para conseguir o troco e ainda pedi desculpa por usar uma nota grande. Também pedi a senha do Wi-Fi explicando minha urgência. Falei com a atendente em meu Italiano fluente (nossa, que mentira, nem italiano básico eu sei) e a moça me respondeu e eu entendi tudinho!
Ela me respondeu em português. Falou que trocaria meu dinheiro sem problemas se eu não quisesse tomar o café. Aceitei no momento, mas disse a ela que voltaria para tomar o café assim que comprasse o bilhete.
Ela me disse que não tinha Wi-Fi ali na lanchonete, mas o telefone dela tinha internet e ela adicionou a minha filha, me emprestou o celular e eu consegui avisar a família. Agradeci e quis devolver o celular para ela para ir comprar o bilhete e ela me mandou levar o celular comigo porque minha filha poderia responder. Ela confiou em mim e levei o celular comigo para comprar o bilhete.
Comprei o bilhete, tomei seu café divino e conversamos um pouco até a chegada do trem. Ela me disse que não era a primeira vez que ajudava gente perdida como eu. Contou outra história de um viajante brasileiro perdido que marcou encontro com alguém e desencontrou. Com a ajuda dela o viajante encontrou quem ele procurava.
Perto das 21 horas, ela me pediu licença para ir cuidar do fechamento da lanchonete e eu insisti em devolver o celular para ela que estava comigo este tempo todo. E ela não queria pegar, mas eu insisti, pois o trem sairia às 21:02h e eu iria ter que ir atrás dela dentro da lanchonete para devolver e a minha cota de emoções para aquele dia estava perto do limite.
Peguei o trem para voltar até Verona. No caminho o trem parou uns 5 minutos e me preocupei novamente com a chegada ao hotel e a cota de emoções para o dia subiu até o limite. Pensei que se demorasse mais do que eu havia previsto a família realmente iria ficar preocupada e fiquei novamente apreensivo. No fim foram somente 5 minutos e o trem continuou até a estação de Verona.
Às 21:30h cheguei no hotel com mais esta história para contar e com mais uma amiga maravilhosa no meu círculo de amizades. Minha filha ao receber a mensagem do telefone com a foto dela falou para a minha mulher que eu já estava me virando e que eu deveria ter conhecido mais uma amiga e devia estar adicionando ela ao meu Facebook. Essa filha me conhece.
Minha mulher por sua vez contou-me que a nossa filha ao ver que eu havia ficado sozinho num país desconhecido ficou apavorada pelo motivo de que ela pensou que poderia acontecer com ela.
E ela não levava com ela nenhum documento ou dinheiro, pois tudo ficava na mão da mãe. A partir deste dia ela passou a levar um documento e dinheiro e já sabia o que deveria fazer para sair de uma situação destas. Devemos levar a lição de tudo o que vivemos.
Quando nós falarmos do Brasil e das coisas ruins que temos, não podemos nos esquecer de que temos o povo mais maravilhoso do mundo. Tava pensando aqui...

domingo, 10 de julho de 2016

Tavapensandoaqui no meu falecido avô

Tavapensandoaqui no meu falecido avô. Foi o único dos avôs e avós que eu conheci. Na certidão de nascimento, uma segunda via que ele tirou depois de perder todos os documentos num naufrágio na segunda guerra, ele foi identificado como filho de pai chinês e mãe chinesa. Qual o nome deles? Não sei, jamais saberei. Posso ser herdeiro da dinastia Ming ou o inventor do pastel e estou aqui ralando. Fui o primeiro neto deste filho de chineses, nascido no Brasil, que foi casado com uma portuguesa. Tiveram duas filhas, 5 netos. Ele morava com minha tia. Lembro que ele chegava todos os domingos de manhã na minha casa em Santos trazendo cigarrinhos de chocolate da Pan ou Diamante Negro. Linda época onde o politicamente correto não existia e podíamos comer chocolates embalados como se fossem cigarros. Ele chegava vestido socialmente para me levar a passeios no tobogã ou para andar de kart, ou outro passeio qualquer pela orla de Santos. Até na praia ele andava com a calça social e o sapato preto. Não tirava nem na areia. Ele conseguiu meu primeiro emprego me indicando para auxiliar de escritório na empresa do patrão, que ele era o motorista particular. Passado o tempo, eu passei a levá-lo no meu carro para assistir meus jogos de futebol no domingo no clube. Ele era fã assíduo, assistia sempre e torcia por mim. Nessa época por coincidência ele trabalhava durante a semana como eletricista neste mesmo clube. Ele era um exemplo para mim, de virtude e de contradição. Ele pedia uma coxinha no bar e o atendente lhe entregava dizendo o preço. Imediatamente ele respondia: “não perguntei o preço”. Outra hora pedia um cafezinho e ao pagar se indignava, dizendo que era caro e xingando: “vocês são um bando de ladrões, isso é um roubo”. Diversas vezes ele pagou pastel e caldo de cana na Praça da Catedral, para mim e minha amiga, depois namorada, hoje mulher, pois nesta ocasião nos encontrávamos no mesmo ponto de ônibus ao término do expediente. Velhinho, ele foi perdendo a audição. Ele ouvia a música “isso me dá, tic tic nervoso, tic tic nervoso” e reclamava que a música jovem era ruim, pois ele escutava o cara cantando só o “nervoso, nervoso”. Quando ele e o irmão Jorge foram morar juntos, conta minha irmã, uma vez eles saíram para pegar o ônibus e o irmão que enxergava mal, pediu para ele, que ouvia pouco, indicar quando o ônibus para o Ferry Boat chegasse. Meu avô indicou quando chegou o ônibus, mas havia mais de um e o irmão entrou no errado. Meu avô chegou a nossa casa rindo e contou a história para minha irmã. Em seguida recebeu a ligação do irmão que lhe disse: “Moracy, você está cego, me indicou o ônibus errado”. Meu avô retrucou: “tu é que estás surdo, eu falei que era o de trás”. Outra pérola aconteceu em casa novamente sob o testemunho da minha irmã. Meu avô lavava a roupa na casa dele e trazia para minha mãe passar. Minha irmã conversava com ele na cozinha sobre esse assunto de lavar e passar roupa e minha mãe passou por eles e disse para ela falar alto, pois ele escutava mal. Ele comentou com minha irmã que se tivesse um ferro de passar na casa dele, ele mesmo passaria a própria roupa. Ela disse para ele que minha mãe tinha dois ferros e podia emprestar um. Ele levantou e perguntou para minha mãe “você tem ferro de sobra?”. Minha mãe respondeu que esse assunto seria com meu pai. Meu avô perguntou “Como assim?”. Minha mãe disse que o ferro de solda deveria ser pedido ao meu pai. Meu avô respondeu “tá ficando surda, minha filha?”. E essas lembranças vão surgindo e enriquecendo nossa memória. Bons tempos. Boas lembranças. Tava pensando aqui...