quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Tavapensandoaqui na sinalização inútil

Tavapensandoaqui na sinalização inútil. Para que serve a placa “Trecho sujeito a neblina”, que vemos aqui nas estradas paulistas? Se estiver neblina, talvez você nem enxergue a placa. E se não estiver neblina? Outra idiotice é “Evite acidentes”. Boa. Sem isso eu provocaria acidentes propositadamente. Nas empresas em que trabalhei algumas pérolas são dignas de nosso povo de terceiro mundo. “Não faça xixi no chão” é um exemplo básico. Quem mija no chão propositadamente? Nem venham reclamar que homem faz isso, porque é uma calúnia. É que a mangueira do homem às vezes trabalha como o chuveiro do seu banheiro. Você já regou o jardim com aquelas mangueiras com o regulador de jato na ponta? Duvido que quando você abre a torneira o primeiro jato d’água sai direto na direção que você apontou. O princípio da mangueirinha do homem é o mesmo. Espero ter sido didático quanto a esse assunto na defesa do sexo masculino que tem o privilégio de urinar em pé. A placa “É proibido pisar na grama” lá no meio do gramado nos traz aquela velha dúvida: quem colocou a placa lá? Foi voando até o local? Nas ruas de São Paulo, temos “Trecho sujeito a alagamento”. Você estaciona pela manhã e na hora que cai a chuva seu carro vira a Arca de Noé boiando desgovernada até o córrego mais próximo, caso não bata em uma árvore ou poste. Outros são informações úteis e até de segurança. “Pedestre, atravesse na faixa”. Na rua onde trabalho nós enxergamos a faixa ao longo da rua toda. Todo trecho da rua é faixa. “Pedestre, aguarde o sinal verde”. O que? Aperto o botão verde e espero cinco minutos para atravessar? Ninguém faz isso. E ninguém acredita que o botão verde funcione para o sinal de pedestre abrir. Parece que os caras instalaram câmeras nas esquinas só para ficar vendo quantas pessoas apertam o botão para atravessar o sinal. Estou até vendo os controladores das câmeras conversarem dizendo “olha outra trouxa apertando o botão inútil”. O Metrô de São Paulo é campeão de alertas inúteis. “Antes de entrar no trem, deixe as pessoas saírem”. O que? E deixar o meu vizinho pegar a minha frente? Nem ferrando. “Tire as mochilas das costas para não incomodar aos outros passageiros”. A besta escuta aquilo e pensa “Ah, incomoda? Agora que não tiro mesmo! Vem tirar de traz de mim para ver só!”. “O volume de seu aparelho sonoro pode incomodar outros passageiros”. Mano, na boa, se o otário está com o fone de ouvido no máximo, vai escutar a mensagem como? “Na escada rolante, deixe a esquerda livre”. A pessoa lê e pensa, “Pô mano, sem preconceito, deixa a esquerda, a direita e o centro livre, nosso país é do bem!”. No Metrô do Japão os funcionários usam luvinhas brancas para apertar os passageiros nos vagões. Aqui no Brasil os funcionários deveriam usar luvas de Boxe para acertar certos passageiros, não é não? Tava pensando aqui...

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Tavapensandoaqui em domar meus animais interiores

Tavapensandoaqui em domar meus animais interiores. Tá dura a vida do brasileiro que deseja conviver no nosso país dentro da ética e do cumprimento das leis. Não só das leis que estão na nossa constituição, mas da lei da convivência entre nós, seres humanos. A preocupação com o vizinho, o cuidado com o próximo, o compartilhamento de espaço para que todas as pessoas gozem do mesmo conforto já não existe mais entre os seres desumanos deste país. Pela manhã, no Metrô, um homem com sua mochila nas costas, pouco se importa se com seu casco parecendo uma tartaruga ninja ele incomoda aos outros passageiros. Nem pensa em colocá-la na mão para permitir mais conforto aos demais. Tenho que passar por ele para descer na estação e meu tigre interior se manifesta e se agiganta inflando o peito e pronto para soltar uma tremenda patada na orelha do tonto, mas tenho que controlar meus instintos e mantenho meu animal na jaula. Um gordo na porta do Metrô ou um sujeito desprovido de magreza, caso algum defensor do politicamente correto queira encher meu saco, impede a passagem das pessoas que querem entrar e sair. Com seu fone de ouvidos enorme nas suas orelhas imundas, olha e mexe com seus dedos gordurosos em seu celular seboso, enquanto as pessoas desviam da sua nojenta pessoa para exercerem seu direito de ir e vir. O gordo, além de desprovido de magreza é desprovido também do mínimo de senso de convivência em sociedade. Desperta em mim meu urso interior, que se agiganta pronto para exercer um jogo de corpo igual ao que eu fazia nos meus tempos de zagueiro do futebol de várzea em Santos, mas minha consciência aprisiona também esse urso feroz dentro da jaula. Circundo o “rolha de poço” tal qual as águas de um rio que ao encontrar um obstáculo, sabiamente o circunda. Durante o dia, várias situações aprisionam minhas cobras, minhas águias e meus tubarões interiores. Falando em politicamente correto, estou de saco cheio de ser politicamente correto quando no meu país o político é totalmente incorreto, numa política onde só existem ladrões que protegem sua própria raça de roedores. A piscina cheia de ratos que é citada na música famosa, é fichinha perto da quantidade de ratazanas que infesta o Lago Paranoá em Brasília. E voltando para casa depois do dia de trabalho no mesmo dia, vejo um senhor chegar com seu neto (ou filho?) no vagão do Metrô em que estou e um educado cidadão oferece-lhe o lugar. E o desgraçado do velho (velho sim!), ao invés de se sentar, faz o seu menino ocupar o lugar oferecido. Meu lobo interior quase salta na jugular do velho, que com seu gesto ofende o cidadão que lhe cedeu o lugar e ainda ensina seu filho (neto?) que não existe lei nem respeito neste país. Como é duro manter a pele de cordeiro numa selva de ninguém. A Amazônia é aqui, no país inteiro. Haja paciência. Tava pensando aqui...

sábado, 19 de agosto de 2017

Tavapensandoaqui se eu morresse hoje

Tavapensandoaqui se eu morresse hoje. Isso me levou a pensar em como eu teria morrido? Você já pensou na morte? Morrer não existe, eu creio que é apenas questão de ponto de vista. Quer ver? Digamos que você tem um mal súbito e caia no meio da rua. Ao abrir os olhos você vê um monte de rostos olhando sua cara, significa então que você está vivo. Se ao contrário, você abrir os olhos e, de cima, ver um monte de nucas olhando para a sua cara no chão, você foi para outra. Mas continua vivo. Ou morto. É uma questão de ponto de vista, não falei? Mal súbito ou morrer em uma cirurgia me parece bem tranquilo. A anestesia faz efeito e “puf”, você foi. Morrer dormindo deve ser legal também, mas acho que essa benção cabe apenas aos puros de alma. Meu avô materno morreu assim, bem velhinho. Estou longe disso. Estou longe de ser puro de alma e de ser velhinho. Uma vez fiz a leitura de um livro sobre esse tema com o intuito de fazer uma análise sobre como o autor escrevia. O autor criou um cenário onde os bichinhos da terra comiam o fulano que foi enterrado e conversavam com ele até comerem todo o corpo. Era uma reflexão sobre a vida do morto, achei interessante. Mas depois disso achei que era bom eu optar pela cremação, pois me senti claustrofóbico na narrativa. O morto estava dentro do caixão conversando com os bichinhos, eu iria morrer se me acontecesse isso. Senti-me com falta de ar. Se bem que eu estaria morto, portanto, achei que nesse caso eu havia criado um paradoxo. Medo de morrer estando morto. Outros autores escrevem sobre a saga do morto após a morte, passando pelas penitências que devem ser vividas, ou morridas, sei lá, até atingir o paraíso. Outra abordagem que eu acho legal é pensar em quem estaria do outro lado esperando por nós. Isso é claro, caso você acredite que haja continuidade da vida após a vida aqui neste planeta azul. Será que é o Pedrão que recebe a gente lá do outro lado, conferindo quem entra no céu e quem vai para o inferno, com planilha Excel e tudo? Será que morrer é a oportunidade que temos de ver novamente os entes queridos que nos deixaram? Se há uma certeza na vida é a certeza que todos vamos morrer. E se há uma dúvida que ninguém tem uma resposta é a dúvida da existência da vida após a morte terrena. Pensando em como terminaria minha passagem por esse planeta, só sei que no meu epitáfio, que é aquilo que escrevem na nossa tumba, túmulo, seja lá o que for, estaria escrito: “Eu estava aqui de passagem, a gente se vê por aí. Fui!”. Não é? Tava pensando aqui...

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Tavapensandoaqui que a leitora quer saber.

Relembrando a crônica do livro.

Tavapensandoaqui que a leitora quer saber.

Perguntas das leitoras e respostas do sábio guru

Alguns anos atrás eu trabalhava ao lado de um amigo e conversávamos sobre tudo. Bom papo sempre.
Numa época em que por coincidência nós dois estávamos fazendo exames de saúde daqueles para verificar uma dorzinha aqui e outra ali, falamos que a espera pelo atendimento era muito chata e falei para ele que eu costumava me divertir lendo as revistas de modas e fofocas.
Meu interesse era nas colunas de conselhos sentimentais. Ele achou engraçado e também começou a se distrair com as revistas. Dávamos boas risadas com os questionamentos das leitoras.
Nessa época as empresas utilizavam um aplicativo de comunicação interna. Era neste aplicativo que se trocavam pequenas mensagens entre os colaboradores. A maioria das vezes a comunicação era para discutir e resolver problemas relativos ao serviço. Hoje isso é comum nas empresas e o comunicador funciona igual ao Whatsapp.
Eu e o amigo conversávamos sobre trabalho por esse aplicativo interno e algumas vezes o utilizávamos para conversas mais amenas.
Algumas vezes ele me chamava dizendo “a leitora quer saber”. Eu respondia “manda”. Ele dizia “a leitora escreve: Eu saí com um cara e ele prometeu me ligar no dia seguinte e faz três meses que ele não me liga. Será que ele não gosta de mim? Assinado: Iludida do Grajaú”.
Eu respondia “Cara Iludida, o celular do seu namorado extraviou ou foi roubado e ele pode até estar machucado em estado grave sem poder se comunicar. Mas pode ter certeza que ele deve estar procurando desesperadamente por você. Todo homem cumpre a promessa que faz. Se ele prometeu ligar ele vai te ligar. Espere mais um ano e meio para ter certeza que ele não vai mais te achar. Mas ele te ama. Assinado: Guru do Amor”.
Passava um tempo e surgia outra dúvida da leitora. Meu amigo me chamava de novo “a leitora quer saber”. Eu respondia “manda”. Ele dizia “a leitora escreve: Caro Guru do Amor, meu marido tem falado o nome de Paula enquanto dorme. Meu nome não é Paula. Quando eu o acordo ele diz que não se lembra de nada. Tenho desconfiança de que ele está me traindo. O que me aconselha? Assinado: Desconfiada da ZL”.
Eu respondia “Cara Desconfiada não se torture, pois todo homem é fiel. Na verdade o seu nome poderia ser Paula em uma vida passada. Alguns homens tem o poder de acessar memórias de vidas passadas. Confie no seu marido, ele é um santo e tem este poder especial. Assinado: Guru do Amor”. Em outro dia aparecia mais dúvida da leitora.
Meu amigo novamente me chamava “a leitora quer saber”. Eu respondia “manda”. Ele dizia “a leitora escreve: Caro Guru, meu marido tem chegado muito tarde dizendo que tem muito serviço no escritório. Eu faço a comida com todo o carinho, mas ele não tem vontade de comer. Será que ele está comendo fora? Assinado: Cozinheira Zona Sul”.
Eu respondia “Cara Cozinheira, ele está comendo fora com certeza. Eu entendo disso porque tenho muito serviço aqui na revista. Quando é preciso ficar até mais tarde no serviço os homens costumam pedir pizza para poder suportar o trabalho duro. O coitado do seu marido tem que comer pedaços de pizza fria e borrachuda sonhando com o seu maravilhoso jantar. Mas ele se sacrifica para trazer o sustento para o lar. Abrace-o quando ele chegar e não se importe se perceber um perfume ou um batom no colarinho, pois quando o homem trabalha até tarde algumas coisas desse tipo costumam acontecer. As coisas no trabalho ficam muito confusas e homens entram no banheiro feminino, as mulheres entram no masculino e um esbarra no outro e sempre ocorrem acidentes. Todo homem que trabalha duro precisa de carinho e compreensão da dedicada esposa. Assinado: Guru do Amor”.
Uma nova dúvida da leitora e ele me chamava “a leitora quer saber”. Eu dizia “manda”. Ele dizia “a leitora escreve: Caro Guru, meu namorado e eu estamos 17 anos juntos e sempre que falo em casamento ele me diz que vamos nos casar assim que a situação melhorar. Estou com quase 40 anos e eu tenho medo que ele não queira se casar. Estou ficando sem paciência. O que faço? Assinado: Impaciente do Irajá”.
Eu respondia “Cara Impaciente, a situação não está fácil para ninguém. Não se desespere. Espere mais uns 12 anos para ver se a situação melhora. Até lá trate seu namorado com bastante carinho para ele continuar feliz ao seu lado e não fale em casamento porque ele pode ficar bravo com você. Assinado: Guru do Amor”.
E assim a gente ia levando a árdua rotina do trabalho na empresa e aproveitando para fazer um serviço de utilidade pública esclarecendo as dúvidas das leitoras.
E você? Qual a sua dúvida? Mande sua pergunta para o correio sentimental e receba a orientação profissional do Guru do Amor. Tava pensando aqui...

sábado, 12 de agosto de 2017

Tavapensandoaqui que tenho dificuldades com as escolhas

Tavapensandoaqui que tenho dificuldades com as escolhas. Estou na frente do computador. “Como você está se sentindo?”, pergunta-me o Facebook na hora que eu abro a rede social. Eu respondo, “sei lá, quais as opções disponíveis?”. Tem um monte de carinhas disponíveis para eu me guiar. Creio que sou racional demais para me sentir com algum sentimento logo que abro a rede social. Agora estou sentindo dor na panturrilha esquerda, devido à partida de tênis jogada pela manhã. Terei problemas para andar nos próximos dias. Deixa-me procurar na lista do Facebook se tem “dor na panturrilha esquerda” como opção. Viu? Não tem, foi o que pensei. Outra possibilidade: acho que estou sentindo-me pensativo, talvez. Pensativo é um sentimento? Preciso de listas para me posicionar perante alguma coisa. O que você prefere? Tenho problemas em responder isso. Quem é o melhor jogador de futebol dos últimos tempos? Não sei. Qual o critério? Acho que é aquele que fez mais de mil gols, portanto é o melhor, caso encerrado. Além disso, ele foi do meu time, então o caso está encerrado duas vezes. Preciso de lista, de uma lista que me diga quais os critérios de escolha e quais as opções disponíveis. Se eu fosse um jurado de programa de TV seria o cara que ficaria em cima do muro e para todos daria a nota nove. Como vou saber se o primeiro a se apresentar é o melhor? Eu ainda não vi os candidatos seguintes para dizer que o primeiro é melhor. Recentemente respondi um questionário onde me perguntavam sobre um filme que marcou a minha vida. Veja a minha dificuldade em escolher o melhor filme que já assisti: de qual categoria? Ficção? Ação? Aventura? Romance? Comédia? Qual a diferença entre ação e aventura? Começo a ter problemas neste ponto. O que eu almejo para o futuro? Sei lá, quais as opções? Acho que sempre me dei bem com múltiplas escolhas. Vou eliminando as alternativas até ficar com o mínimo possível. Você prefere praia ou campo? Nessas horas minha primeira alternativa é “nenhuma das anteriores”, prefiro que não me façam perguntas. Eu gosto de gente determinada, aquela pessoa que responde “na lata” que adora praia. Então eu pergunto a essa pessoa determinada, se uma passagem pelas montanhas numa pousadinha com lareira e um fondue de queijo ou de chocolate não seria legal. E então a pessoa determinada responde na mesma hora que “ah, isso também gosto”. Isso é que é determinação, não é mesmo? Tudo tem sua atração, tudo tem seu lado cara ou coroa, como as moedas. Às vezes a moeda cai em pé. Já testemunhei isso acontecer quando eu jogava futebol de praia. A moeda ficou em pé na areia dura da praia de Santos, mais precisamente nas areias próximas do canal zero. Escolhas. Vou por aqui ou por ali? Sempre temos que escolher algo, achar algo, sentir algo. Vamos para o happy hour? Onde? Difícil escolher. Ninguém crava a opção na primeira vez. Vamos fazer um churrasco ou um almoço para reunir a família? Difícil escolher. E se a escolha estiver errada? Culpa sua, você que escolheu essa pizzaria lotada, eu queria ir àquela Temakeria. Escolhas, ó dúvida cruel! E você, como se sente em relação às escolhas? Tava pensando aqui...

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Tavapensandoaqui sobre os felizes.

Tavapensandoaqui sobre os felizes. Texto maravilhoso de Socorro Acioli, Cearense, cuja obra eu desconhecia. Gostei demais então colei aqui, vale a pena ler. "Sobre os felizes"
Existem pessoas admiráveis andando em passos firmes sobre a face da Terra. Grandes homens, grandes mulheres, sujeitos exemplares que superam toda desesperança. Tenho a sorte de conhecer vários deles, de ter muitos como amigos e costumo observar suas ações com dedicada atenção. Tento compreender como conseguem levar a vida de maneira tão superior à maioria, busco onde está o mistério, tento ler seus gestos e aprendo muito com eles.
De tanto observar, consegui descobrir alguns pontos em comum entre todos e o que mais me impressiona é que são felizes. A felicidade, essa meta por vezes impossível, é parte deles, está intrínseco. Vivem um dia após o outro desfrutando de uma alegria genuína, leve, discreta, plantada na alma como uma árvore de raízes que força nenhuma consegue arrancar.
Dos felizes que conheço, nenhum leva uma vida perfeita. Não são famosos. Nenhum é milionário, alguns vivem com muito pouco, inclusive. Nenhum tem saúde impecável, ou uma família sem problemas. Todos enfrentam e enfrentaram dissabores de várias ordens. Mas continuam discretamente felizes.
O primeiro hábito que eles têm em comum é a generosidade. Mais que isso: eles têm prazer em ajudar, dividir, doar. Ajudam com um sorriso imenso no rosto, com desejo verdadeiro e sentem-se bem o suficiente para nunca relembrar ou cobrar o que foi feito e jamais pedir algo em troca.
Os felizes costumam oferecer ajuda antes que se peça. Ficam inquietos com a dor do outro, querem colaborar de alguma maneira. São sensíveis e identificam as necessidades alheias mesmo antes de receber qualquer pedido. Os felizes, sobretudo, doam o próprio tempo, suas horas de vida, às vezes dividem o que têm, mesmo quando é muito pouco.
Eu também observo os infelizes e já fiz a contraprova: eles costumam ser egoístas. Negam qualquer pequeno favor. Reagem com irritação ao mínimo pedido. Quando fazem, não perdem a oportunidade de relembrar, quase cobram medalhas e passam o recibo. Não gostam de ter a rotina perturbada por solicitações dos outros. Se fazem uma bondade qualquer, calculam o benefício próprio e seguem assim, infelizes. Cada vez mais.
O segundo hábito notável dos felizes é a capacidade de explodir de alegria com o êxito dos outros. Os felizes vibram tanto com o sorriso alheio que parece um contágio. Eles costumam dizer: estou tão contente como se fosse comigo. Talvez seja um segredo de felicidade, até porque os infelizes fazem o contrário. Tratam rapidamente de encontrar um defeito no júbilo do outro, ou de ignorar a boa nova que acabaram de ouvir. E seguem infelizes.
O terceiro hábito dos felizes é saber aceitar. Principalmente aceitar o outro, com todas as suas imperfeições. Sabem ouvir sem julgar. Sabem opinar sem diminuir e sabem a hora de calar. Sobretudo, sabem rir do jeito de ser de seus amigos. Sorrir é uma forma sublime de dizer: amo você e todas as suas pequenas loucuras.
Escrevo essa crônica, grata e emocionada, relembrando o rosto dos homens e mulheres sublimes que passaram e que estão na minha vida, entoando seus nomes com a devoção de quem reza. Ainda não sou um dos felizes, mas sigo tentando. Sigo buscando aprender com eles a acender a luz genuína e perene de alegria na alma. Sigamos os felizes, pois eles sabem o caminho...

(Autora: Socorro Acioli - Escritora)

domingo, 6 de agosto de 2017

Tavapensandoaqui que Amélia decidiu trabalhar

#tavapensandoaqui que Amélia decidiu trabalhar. 
Com diploma do ensino superior na mão, falando três línguas estrangeiras, Amélia foi até o local onde estavam solicitando “Vagas para auxiliar de entregas no exterior: desejável falar três línguas, ter boa aparência, disposição, disponibilidade para trabalhar finais de semana e diploma do ensino superior. A empresa oferece transporte e refeições”. 
O local da seleção estava repleto de gente e ela seguiu a fila que fazia um “U” até se posicionar no terceiro quarteirão. Assustou-se com a rapidez com que a fila se movimentava e em poucos minutos estava na rua onde podia ver a entrada da casa onde se fazia a seleção. Pessoas entravam com a mesma velocidade que saíam e ela logo chegou ao portão onde respondeu às perguntas do segurança em três línguas diferentes. Quem não respondia era descartado na porta. Admitida no recinto, ela dedicou alguns minutos ao preenchimento da ficha de número 287 onde algumas perguntas tinham que ser respondidas nas três línguas que a pessoa dominava. Ela era de classe média, sua fluência nas línguas Italiana, Inglês e Frances vinham da família Italiana onde ela nasceu e da adolescência no Canadá onde as línguas Francesas e Inglesas são obrigatórias para se virar por lá. 
Terminada a ficha aguardou sua vez e fez a entrevista. O cargo era de “Auxiliar de entregas no exterior” e ela ficou feliz quando disseram que ela estava apta para a vaga. Dia seguinte se apresentou trajando roupa confortável, como foi recomendada pela empresa, pois ela seria treinada para exercer a função. A empresa fornecia transporte e refeição e ao se apresentar para o trabalho foi levada junto com outras pessoas para o transporte que a levaria para o local do trabalho. 
O motorista levou-a até o pátio onde lhe aguardava uma Besta, aquela Van para nove passageiros. Recebeu uma mochila e um avental verde e azul. Sentou-se junto aos demais e abriu a mochila que dentro tinha uma boa quantidade de panfletos do ultimo lançamento imobiliário de um bairro nobre. No fundo da mochila um pequeno pacote embrulhado em papel alumínio trazia o lanche que ela poderia comer em quinze minutos do intervalo, conforme lhe avisaram. Ela arguiu ao chefe: “Vamos entregar panfletos nos cruzamentos da cidade?” ao que o chefe respondeu: “Sim, um trabalho bem puxado, faça chuva ou faça sol, fins de semana, estaremos sempre alertas!”. Ela retrucou: “Mas para que falar três línguas e tudo o mais?”. O chefe respondeu: “Porque somos uma cidade turística e temos que estar preparados para atender pessoas do mundo todo. Vai que eles tenham dúvidas e perguntem alguma coisa para nós?”. 
E assim Amélia começou a trabalhar. Pois é. 
As vagas disponíveis atualmente para executar funções básicas, exigem que você tenha formação “genérica e específica” em diversas ferramentas, diploma superior ou superior ao superior, conheça vários idiomas, tenha horário flexível, condução própria, garra, energia, boa comunicação, boa aparência, disponibilidade para viagens, trabalho em equipe, espírito empreendedor e muito mais. Velhos, negros, gays, gordos ou feios serão descartados sem que isso seja feito de forma clara, pois o patrulhamento do politicamente correto estará atuante. Quando você vê a remuneração oferecida de até três salários mínimos, percebe que estão lhe fazendo de besta. Não tem como escapar. Certo estava Ariano Suassuna quando disse: “É tanta qualidade que exigem para dar emprego que não conheço um patrão com condições de ser empregado”. Tava pensando aqui...

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