segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Tavapensandoaqui no meu pé esquerdo



Tavapensandoaqui no meu pé esquerdo. Eu também penso no pé direito, mas nesse caso a tira do chinelo que quebrou quando eu peguei meu almoço no restaurante a quilo, foi a que fica na parte interna do par esquerdo. Como está fora de cogitação processar o fabricante do chinelo por propaganda enganosa, minha preocupação passou a ser como eu voltaria para minha casa com um pé de chinelo inteiro e outro quebrado. Afinal, eu estava bem à vontade com bermuda e camiseta, mas a região é comercial e várias pessoas estavam lá almoçando. Atrás da mesa onde eu estava, inclusive, rolou “Parabéns a você” cantado pela turminha de trabalho que almoçava junto. Assim que acabei, levantei-me sem dar mancada, quero dizer, mancando um pouco, disfarçando e pressionando o chinelo esquerdo contra o chão, conseguindo assim leva-lo até a saída do restaurante sem levantar suspeita. Paguei a conta. Eram quase uma da tarde de um dia de calor nublado. Quatro quadras me separavam do meu endereço. Comecei a me deslocar pela calçada, pé esquerdo equilibrando o chinelo quebrado. Senti o chinelo desviar-se da direção reta várias vezes e percebi a temperatura morna do chão da calçada com a parte da sola do pé que ficava para fora do chinelo. Passei pelo ponto de ônibus sem levantar suspeita. Perto do final dessa primeira quadra eu tirei o chinelo do pé e comecei a andar com ele na mão, como quem tenta fazer um ajuste para voltar a calçá-lo. Nessa esquina tem um semáforo que estava fechado e vários carros estavam parados. Dobrei a esquina antes de atravessá-la e mantive a pose, sem que ninguém olhasse para mim. Pensei que seria julgado pelos motoristas que esperavam a abertura do sinal. Fui andando, mexendo no chinelo. Olhei para um motorista, ele olhava seu celular. Outro olhava o painel do carro. Outro conversava com o carona e outro não estava nem aí. Passei para a terceira quadra, com o chinelo na mão, simplesmente. Cruzei poucas pessoas que passaram sem me dar bola nenhuma. Passei por calçadas com pisos ruins e umas tinham um tipo de cimento cheio de pequenas relevâncias, o suficiente para incomodar o meu pisar com o pé descalço. Pensei no desconforto dos pobres cachorrinhos que passam por ali. Ao chegar ao prédio onde moro, sem que ninguém tivesse dado a mínima importância por eu estar andando com um pé descalço, resolvi cumprimentar o porteiro com a mão que segurava o chinelo, para causar nele a curiosidade de perguntar “O que houve com seu chinelo?”. Após o meu aceno ele voltou a olhar para dentro da cabine, seguindo sua rotina normal. Peguei o elevador e me contive para não acenar para a câmera com o chinelo, para registrar esse momento tão peculiar. Conclusão, ninguém está nem aí para o que você faz na sua vida, cada um cuida da própria. Será? Tava pensando aqui...

Gostou? Deixe seu comentário e compartilhe. Curta essa página no Facebook - Tavapensandoaqui - com as minhas crônicas e compartilhe também! Compre meu livro pela internet (também em e-Book). Compre comigo através do INBOX ou WhatsApp (11) 99347-7662. Ajude a divulgar o meu trabalho. Um beijo do magro!