Tavapensandoaqui no ruído na
comunicação. Sabe àquela hora em que a gente fala uma coisa e as pessoas
entendem outra? Pois é. Levei meu sapato no sapateiro para que ele fizesse um
reparo na sola de couro, que continha algumas tiras de borracha para evitar
escorregões e uma delas soltou. Ele disse que não podia colocar novamente as
borrachinhas e que faria a substituição com uma meia sola. Aceitei a solução
proposta pelo sapateiro, voltando para buscar os sapatos alguns dias depois.
Ele colocou meia sola de borracha, desvalorizando assim meu patrimônio com um
solado barato em um sapato que deveria ter a classe de um sapato com solado em
couro. Eu nem falei nada, paguei e fim. Na mesma semana, a secretária do lar
estava em casa para a faxina semanal. Nosso tapete da sala de jantar havia
ocasionado a queda da minha filha de 19 aninhos. Ela saiu em disparada ao
avistar uma barata na cortina da sala de estar. Ao fazer a curva e pisar no
tapete ela caiu, pois o piso estava escorregadio depois de encerado da última
vez com uma cera nova. Então eu coloquei fitas adesivas nas pontas do tapete
como solução temporária na prevenção de acidentes, reparo esse que é mais
conhecido como “gambiarra”. E eu instruí a secretária para que não levantasse o
tapete da sala de jantar para varrer por baixo, que ela deixasse as fitas
adesivas mais um pouco. Na semana seguinte ao trabalho da secretária do lar, ao
andar com meias pela casa vi que o solado da meia ficou sujo e minha mulher
descobriu que o tapete da sala de jantar estava sujo. A secretária do lar
deixou de limpar o tapete, ao invés de fazer a limpeza dele na parte de cima
como eu havia instruído (quer dizer, achei que eu tinha sido claro). Ela
entendeu que não era para limpar o tapete. Eu acho que se eu quisesse que ela não
limpasse o tapete eu diria “não limpe esse tapete”. Mas eu acredito na lei do
retorno. O culpado fui eu. Em uma ocasião dias atrás, uma colega que estava em
serviço voluntário comigo, perguntou se uma colega e eu éramos casados, que ela
nos achava bem parecidos. Eu imediatamente respondi “sim” e minha colega
respondeu “não”. Olhei para essa colega e perguntei “você é casada?” e ela
respondeu “sim” e eu completei “então ambos somos casados e a resposta correta
para a pergunta seria “sim, somos casados””. Rimos da brincadeira e refletindo
agora, vejo que minha própria brincadeira está se voltando contra mim, de forma
vingativa. Esse Universo é mesmo um brincalhão. Agora eu tenho a dúvida:
comunicação é aquilo que falamos ou aquilo que entendemos? Será que temos que
avaliar todas as possibilidades de entendimento que o outro possa ter ao
conversamos e ao formularmos uma pergunta ou instruirmos a outra pessoa? Ao
passar instruções de algo para alguém, devemos repetir de várias maneiras
diferentes, pedir para a pessoa nos dizer o que entendeu e finalmente
registrarmos tudo em um contrato com firma reconhecida? Na verdade eu utilizava
isso na minha carreira corporativa para que a minha entrega fosse aquela que o
cliente queria. E olha que nem assim dava certo! Mas na vida pessoal isso fica
muito chato, não fica? Ó vida. Tava pensando aqui...
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