segunda-feira, 11 de julho de 2016

Tavapensandoaqui que perdi a estação onde eu devia descer

Um ano faz que me perdi na Itália. Acompanhe a crônica desse dia, que também está no meu livro. #tavapensandoaqui que perdi a estação onde eu devia descer. Voltávamos para Verona ao final da tarde após a visita à Veneza. Viagem curta de trem para ser feita em menos de uma hora.
Cochilei um pouco, eu estava com a garganta seca e quando acordei fui ao vagão de café, 5 vagões até lá. Tomando café o trem parou. Achei legal, tomei café sem balanço do trem. Dirigi-me de volta ao meu vagão com calma. Afinal na ida, havia acontecido a mesma parada enquanto eu tomava café e não era a estação de Veneza.
Passei pelo banco da minha família e elas não estavam, estavam duas garotas. Corri para a porta para conferir o número do vagão. Quando pensei em ver o nome da estação, a porta do trem fechou. Olhei para fora já com o trem em movimento e vi que a mulher e a filha já estavam na estação com as mochilas. Era a estação de Verona onde eu deveria descer. Bati no vidro gritando e elas não me viram.
Fiquei tranquilo como eu sempre sou e só pensei: “fudeu”. Bom, eu estava com documentos e dinheiro então parti para o plano A: procurar o comissário, descer na próxima, comprar bilhete, pegar Wi-Fi na lanchonete, avisar a família e tomar outro café ou cerveja, dependendo do tempo de espera e terminar voltando ao hotel.
A minha família neste caso já deveria estar de volta no hotel e com Wi-Fi disponível para ler minha futura mensagem. Se tudo fosse rapidinho esse era o plano, senão eu ia para o plano B: ligar a banda do telefone 3g (torcer para funcionar) e avisar direto, desde que a filha também fizesse isso.
Decidi pelo plano “A”. Minha filha já havia acionado o plano “B” ou seja, já tinha ligado o 3g e depois me disse que era ruim (espertinha ela), mas elas acabaram indo para o hotel assim que perceberam que eu havia ficado no trem, para conectar o Wi-Fi do hotel e esperar por notícias.
Encontrei o comissário que foi muito legal comigo e disse que na estação seguinte PESCHIERA (menos de 15min da estação Verona) na plataforma 1 havia um trem que voltaria para Verona.
Chegamos à estação e ajudei uma senhora a descer com a mala para mostrar ao comissário que eu era um cara legal e que ele tinha ajudado um bom menino.
Bilhete compra-se em máquinas, preço 3,30 euros e me faltava 1 euro em moeda. Nós compramos os bilhetes de volta de Veneza nessas máquinas e eu tinha aprendido a usá-las. Eu não quis colocar uma nota de 20 na máquina. O próximo trem sairia em 40 minutos.
Dirigi-me à lanchonete para pedir um café com uma nota de 20 euros para conseguir o troco e ainda pedi desculpa por usar uma nota grande. Também pedi a senha do Wi-Fi explicando minha urgência. Falei com a atendente em meu Italiano fluente (nossa, que mentira, nem italiano básico eu sei) e a moça me respondeu e eu entendi tudinho!
Ela me respondeu em português. Falou que trocaria meu dinheiro sem problemas se eu não quisesse tomar o café. Aceitei no momento, mas disse a ela que voltaria para tomar o café assim que comprasse o bilhete.
Ela me disse que não tinha Wi-Fi ali na lanchonete, mas o telefone dela tinha internet e ela adicionou a minha filha, me emprestou o celular e eu consegui avisar a família. Agradeci e quis devolver o celular para ela para ir comprar o bilhete e ela me mandou levar o celular comigo porque minha filha poderia responder. Ela confiou em mim e levei o celular comigo para comprar o bilhete.
Comprei o bilhete, tomei seu café divino e conversamos um pouco até a chegada do trem. Ela me disse que não era a primeira vez que ajudava gente perdida como eu. Contou outra história de um viajante brasileiro perdido que marcou encontro com alguém e desencontrou. Com a ajuda dela o viajante encontrou quem ele procurava.
Perto das 21 horas, ela me pediu licença para ir cuidar do fechamento da lanchonete e eu insisti em devolver o celular para ela que estava comigo este tempo todo. E ela não queria pegar, mas eu insisti, pois o trem sairia às 21:02h e eu iria ter que ir atrás dela dentro da lanchonete para devolver e a minha cota de emoções para aquele dia estava perto do limite.
Peguei o trem para voltar até Verona. No caminho o trem parou uns 5 minutos e me preocupei novamente com a chegada ao hotel e a cota de emoções para o dia subiu até o limite. Pensei que se demorasse mais do que eu havia previsto a família realmente iria ficar preocupada e fiquei novamente apreensivo. No fim foram somente 5 minutos e o trem continuou até a estação de Verona.
Às 21:30h cheguei no hotel com mais esta história para contar e com mais uma amiga maravilhosa no meu círculo de amizades. Minha filha ao receber a mensagem do telefone com a foto dela falou para a minha mulher que eu já estava me virando e que eu deveria ter conhecido mais uma amiga e devia estar adicionando ela ao meu Facebook. Essa filha me conhece.
Minha mulher por sua vez contou-me que a nossa filha ao ver que eu havia ficado sozinho num país desconhecido ficou apavorada pelo motivo de que ela pensou que poderia acontecer com ela.
E ela não levava com ela nenhum documento ou dinheiro, pois tudo ficava na mão da mãe. A partir deste dia ela passou a levar um documento e dinheiro e já sabia o que deveria fazer para sair de uma situação destas. Devemos levar a lição de tudo o que vivemos.
Quando nós falarmos do Brasil e das coisas ruins que temos, não podemos nos esquecer de que temos o povo mais maravilhoso do mundo. Tava pensando aqui...

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