E
o sensor não me enxerga (Crônica de um ano atrás, agora no livro #tavapensandoaqui)
Eu saio pela porta da sala
que fica no mesmo local onde fica a porta da cozinha. As portas ficam a 90
graus uma da outra e saem para o mesmo corredor. A da cozinha sai direto e reto
para o corredor.
Meu olho mágico fica na
porta da cozinha para eu poder enxergar todo o corredor. A porta da sala fica
de frente para a parede do corredor. E o sensor de presença do corredor não
sente a minha presença quando eu saio pela porta da sala, só sente a minha
presença quando saio pela cozinha.
Quando saio pela sala tenho
que andar uns três metros até o botão de chamada do elevador para o tonto do
sensor de presença me perceber. Ando até o botão no escuro com a mão levantada
e chacoalhando-a para o sensor acordar. Falta só eu dar um berro para o bicho
despertar e me perceber.
Então eu espero o elevador.
Todo elevador demora. A luz do corredor apaga antes da chegada do elevador.
Levanto a mão e sacudo-a para acender a luz novamente. Se a luz apaga de novo
eu balanço a cabeça e o corpo. Às vezes até rebolo quando estou com as mãos
ocupadas mexendo no celular. Pouco é claro. Discretamente. Ninguém está vendo
mesmo. Se o vizinho olhar pelo olho mágico, não vou ser descoberto, pois vai
estar escuro e quando acender eu paro de rebolar. Sou esperto. Veja lá se vou
deixar alguém saber que eu rebolo para me fazer presente no sensor de presença.
Nem morta. Quer dizer, nem morto. O elevador chega. A porta abre e dentro tem
uma senhorinha oriental pequenina com um cachorrinho bem grandinho. A lei do
condomínio reza que os animais de estimação devem ser carregados pelos donos.
Neste caso acho que o animal de estimação poderia carregar a dona. Aceno
negativamente com um sorriso, indico que não vou entrar. Ela sorridente me
convida, dizendo que o animal é mansinho. Concordo com um aceno positivo de
cabeça e um sorriso, mas recuso a oferta e digo a ela que não tenho pressa.
Era mentira eu estava com
pressa. Fecha-se a porta do elevador. Luz apaga e eu me sacudo de novo. É que
eu decidi que não entro mais em elevador junto com nenhum animal de estimação.
Preconceito? Medo? Frescura?
Pense o que você quiser. Mas
eu penso que um elevador pode parar por falta de luz e ficar no escuro. Se
tiver passageiros dentro e mais um animal de estimação creio que não poderá resultar
em algo muito agradável.
Ainda mais se o animal de
estimação não consegue ser carregado pelo dono ou dona. O animal
transformar-se-á em uma fera quando acuado. Prefiro evitar.
Eu espero então o próximo
elevador. Quer dizer, espero o mesmo elevador. Não tem outro, só tem este.
A luz do corredor apaga
novamente. Que saco! Rebolo outra vez, estava com as mãos ocupadas. Tava
pensando aqui...
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