Tavapensandoaqui
no vulto que vejo pelo canto do olho enquanto eu faço o café. Viro-me rápido e
nada vejo. O fogo brando da boca do fogão a gás faz com que a água comece a
produzir pequenas bolinhas no fundo da leiteira (ou fervedor). Pego a leiteira
e despejo a água quente no centro do pó de café que está colocado no filtro reutilizável
comprado no supermercado do bairro. As instruções dizem que o filtro aguenta a
passagem de café por até cinco vezes, basta lavarmos e esperar secar. A água
produz um buraco no centro do pó de café. Espero a passagem da água e olho
atentamente ao meu redor procurando algo que não sei o que é. Estou sozinho na
cozinha, família dorme. Tento fazer tudo em silêncio. Agora a
leiteira apresenta pequenas borbulhas de água em seu fundo e começam lentamente
a flutuar tentando alcançar o topo da água. Acho que estão se afogando e nadam
para cima querendo sair. Eu pego a leiteira e derramo mais um pouco da água
quente, agora pelas bordas do filtro reutilizável para que os movimentos de
queda de barreiras do café façam a mistura do pó de forma automática. Enquanto
faço isso o vulto mais uma vez me atormenta e para não fazer meleca na passagem
do café eu não me viro. O vulto some. Viro-me novamente a procura de alguma
coisa. Irrito-me. Penso que posso estar com algum problema na visão, com uma
espécie de mancha na retina, sei lá. Agora a leiteira apresenta sinais de
impaciência com o fogo queimando sua bunda e as borbulhas de água começam a
crescer mais. Pego a leiteira e novamente despejo pelas laterais do filtro reutilizável
para produzir nova queda de barreira e novamente provocar a mistura do pó para
extrair o máximo do sabor do café. Enquanto espero a passagem da água pelo pó
de café no filtro reutilizável eu sinto o aroma fresco e gostoso do café. E o
vulto novamente se manifesta. Eu viro minha cabeça com a rapidez de um
guerreiro Ninja e consigo alcançá-lo com minha visão. A água do café agora
perde completamente o controle. Impaciente, a leiteira com sua bunda no fogo
aquece ainda mais a água que cria bolhas enormes que espirram pelas laterais
espalhando um pouco de respingos pelo fogão. Pego a leiteira com água mais uma
vez para completar a operação enquanto já observo o vulto com o canto do olho.
Enquanto a água faz sua última incursão pelas entranhas do pó de café,
extraindo todo o potencial dele eu deixo a leiteira no fogão, desligo o fogo e
me viro rapidamente olhando para o vulto que agora me aparece nitidamente. Eu
coloco as minhas mãos em paralelo e fecho-as rapidamente em movimento de
aplaudir levando-as encontro do incomodo vulto. PLAFT! Bastou uma. Mosquitinho filho de uma mãe. Lavo
minhas mãos. Despejo o café na xícara. Hum, o café ficou uma delícia. Servidos?
Tava pensando aqui...
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