Tavapensandoaqui no indulto
do Dia dos Pais. O indulto é concebido em datas especiais e o presidiário pode
passar esse dia fora da prisão. Se ele for um presidiário bonzinho, se ele
cumprir as obrigações, fizer o dever de casa, não faltar, ganhar estrelinhas no
caderninho, ajudar um velhinho a atravessar a rua e coisas assim, ele pode
obter esses benefícios que a justiça lhe proporciona (é claro que existem
regras específicas para conceder o indulto). É engraçado o pensamento do povo
brasileiro em relação à justiça, em relação aos presos e ao sistema prisional
de uma forma geral. A maioria de nós não conhece as leis e sempre damos muitos
palpites em tudo que é escândalo. Se um cara mata alguém por ciúmes, temos
nossa opinião a respeito. Se alguém comete uma chacina no shopping, temos nossa
opinião sobre o monstro. Toda vez que tem indulto surgem polêmicas, do tipo
“matou os pais e vai ter indulto de Dia dos Pais, que absurdo”. É um direito
que essa pessoa tem, independente do crime cometido. Não existe um parágrafo na
lei que diga que quem matar o Papai Noel não tem direito ao indulto de Natal. Outra
coisa que chama a atenção é que o sujeito vai preso por um determinado tempo,
depois ele é solto e volta para a sociedade. Presume-se que esse tempo que ele
passou na prisão foi o tempo suficiente para ele refletir e não cometer mais
nenhum crime. Todo mundo esquece esta parte. A pessoa deveria voltar para a vida
social, pronta para se adequar às regras da sociedade. Veja bem esse exemplo.
Suponha que você mate alguém por uma razão que você achou justa. Você foi
preso, julgado, condenado, sua imagem e seu crime venderam milhares de jornais
e revistas, apareceu em milhares de publicações, seu caso foi comentado na
rádio e TV por um monte de gente que não entende nada de leis e você lá refletindo
na cadeia sobre a burrada que fez. Com o passar do tempo você se sente
realmente arrependido. Comporta-se direitinho para obter os benefícios da lei. Finalmente
sai da prisão pelo direito que lhe cabe, usando as leis como elas foram
escritas pela própria sociedade que lhe condenou. E ao sair, ainda continuam
falando do seu crime, continuam falando de você como se você fosse cometer
novamente o crime. Depois de tanto tempo, aquele crime que você cometeu continua
sendo lembrado. Pois é, estamos realmente num beco sem saída, porque condenamos
alguém por um crime e essa pessoa mesmo depois de ter cumprido a pena vai
sempre continuar em dívida com a sociedade. Deve ser difícil para um
ex-presidiário conseguir uma profissão novamente, sem causar a desconfiança dos
patrões e colegas. Se ele fez uma coisa errada uma vez, ele poderá fazer
novamente. Não está na hora de rever nossa posição? Aliás, quando eu disse para
você imaginar que havia matado alguém, você imaginou? Hummm, não sei não, esse
seu pensamento está estranho... Tava pensando aqui...
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