Tavapensandoaqui que não
tenho superstição. Quer dizer, quase. Por exemplo, se um velhinho de chapéu
passa ao lado do meu carro dirigindo o primeiro carro que ele comprou na vida
eu me afasto mais do que quando vejo um gato afro-descendente. Não passo por
debaixo de escadas por um motivo muito simples: alguém está lá em cima da
escada e alguma coisa poderá cair na minha cabeça. É uma questão de segurança. Existem
coisas que se atraem como os pólos opostos de um imã. A manteiga do pão é
atraída pelo chão. A camisa branca atrai o molho de tomate do macarrão à
bolonhesa. O nosso dedinho do pé é atraído pela quina da cama ou da mesa da
sala. Lavar o carro atrai chuva. Minha cabeça atrai portas de armários abertas
e pratos. Uma vez eu disputava uma guerra com minha irmã, os dois
entrincheirados nos lados opostos do sofá da sala, protegidos pelos braços do
dito cujo. Minha mãe e tias faziam saquinhos daqueles que a gente joga pra cima
e pega o que ficou no chão, jogo esse que não lembro o nome. Eu só sei que a
gente tinha uma quantidade razoável de munição das mais variadas cores, quer
dizer saquinhos, e usávamos de uma forma bem mais criativa do que o joguinho
aqui citado. Saquinhos voavam pelo ar atravessando o espaço que separava as
duas trincheiras e tentavam atingir o inimigo, ou seja, o irmão ou irmã. Várias
batalhas foram travadas inclusive com participação de primos e vizinhos, com
vencedores e perdedores, até que um maldito saquinho atingiu um prato na parede
(lembram daqueles pratos pintados que eram pendurados nas paredes das casas dos
nossos pais? Cafonas para burro e que faziam parte da cultura da época. Perdiam
para as andorinhas azuis de tamanhos diferentes que também decoravam paredes e era
mais horrorosa ainda, quem lembra? Bom, vamos continuar a história). O saquinho
atingiu o alvo e fez o inocente prato atingir minha cabeça. Choro e hospital
seguiram a história, precedidas de algumas palmadas nos dois exércitos. Por
outra feita a minha mãe resolveu pegar um prato na prateleira da cozinha (olha,
acabo de descobrir porque se chama prateleira, é porque armazena pratos!) no
momento em que almoçávamos, sendo que eu estava exatamente embaixo deste local
e o dito prato resolveu fugir das mãos da minha mãe para atingir minha testa. Para
mim o prato me atacou de forma planejada, ele tinha algo para resolver comigo. Choro
e hospital fizeram a continuidade da história, seguida de uma cicatriz que
mantenho com estima. Bato na madeira três vezes para não acontecer novamente e
fujo de lugares onde alguém resolve passar por cima de mim para pegar alguma
coisa, pois a atração será fatal. Entro com o pé direto no campo de futebol e
pego um pouco do gramado do campo para fazer o sinal da cruz. Hoje com os
campos sintéticos eu faço o sinal da cruz com aquelas borrachinhas preta mesmo,
acho que Jesus não vai se importar com a modernização dos tempos. Faço isso sem
nenhuma superstição, é que não quero parecer o cara diferente da turma. Voltando
ao início onde eu disse que sou quase um “sem superstição” vou falar da minha
única superstição, que é não comprar carro de uma determinada cor. Uma vez fui
a uma cartomante, claro que não acredito, fui para conhecer como é, e ela me
recebeu vestida com roupa colorida e um baita sapato vermelho de salto
altíssimo. Na conversa inicial sentado frente a frente antes da consulta, ela
me explicou que o sapato tem poder e que ela aponta o bico dele para a pessoa
que ela conversa para mostrar o poder dela (eu me desviei algumas vezes da
ponta do sapato durante a conversa, devo confessar). Fica a dica aqui para as
amigas leitoras, aponte o sapato para seus oponentes. Entre diversas coisas que
a mulher previu, acertou muito por sinal, ela me disse que a determinada cor
não combinava comigo. E a partir desta data, passei a evitar comprar o carro
com a cor que ela me disse. Essa é minha única superstição. Não tenho mais
nenhuma. E você? Tem alguma? Pula sete ondas? Usa peças de roupa íntima
colorida na virada do ano? Coloca folha de arruda na carteira? Usa pé de
coelho? Manda barco para Iemanjá? Tem moedinha da sorte? Tava pensando aqui...
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