quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Tavapensandoaqui que não tenho superstição

Tavapensandoaqui que não tenho superstição. Quer dizer, quase. Por exemplo, se um velhinho de chapéu passa ao lado do meu carro dirigindo o primeiro carro que ele comprou na vida eu me afasto mais do que quando vejo um gato afro-descendente. Não passo por debaixo de escadas por um motivo muito simples: alguém está lá em cima da escada e alguma coisa poderá cair na minha cabeça. É uma questão de segurança. Existem coisas que se atraem como os pólos opostos de um imã. A manteiga do pão é atraída pelo chão. A camisa branca atrai o molho de tomate do macarrão à bolonhesa. O nosso dedinho do pé é atraído pela quina da cama ou da mesa da sala. Lavar o carro atrai chuva. Minha cabeça atrai portas de armários abertas e pratos. Uma vez eu disputava uma guerra com minha irmã, os dois entrincheirados nos lados opostos do sofá da sala, protegidos pelos braços do dito cujo. Minha mãe e tias faziam saquinhos daqueles que a gente joga pra cima e pega o que ficou no chão, jogo esse que não lembro o nome. Eu só sei que a gente tinha uma quantidade razoável de munição das mais variadas cores, quer dizer saquinhos, e usávamos de uma forma bem mais criativa do que o joguinho aqui citado. Saquinhos voavam pelo ar atravessando o espaço que separava as duas trincheiras e tentavam atingir o inimigo, ou seja, o irmão ou irmã. Várias batalhas foram travadas inclusive com participação de primos e vizinhos, com vencedores e perdedores, até que um maldito saquinho atingiu um prato na parede (lembram daqueles pratos pintados que eram pendurados nas paredes das casas dos nossos pais? Cafonas para burro e que faziam parte da cultura da época. Perdiam para as andorinhas azuis de tamanhos diferentes que também decoravam paredes e era mais horrorosa ainda, quem lembra? Bom, vamos continuar a história). O saquinho atingiu o alvo e fez o inocente prato atingir minha cabeça. Choro e hospital seguiram a história, precedidas de algumas palmadas nos dois exércitos. Por outra feita a minha mãe resolveu pegar um prato na prateleira da cozinha (olha, acabo de descobrir porque se chama prateleira, é porque armazena pratos!) no momento em que almoçávamos, sendo que eu estava exatamente embaixo deste local e o dito prato resolveu fugir das mãos da minha mãe para atingir minha testa. Para mim o prato me atacou de forma planejada, ele tinha algo para resolver comigo. Choro e hospital fizeram a continuidade da história, seguida de uma cicatriz que mantenho com estima. Bato na madeira três vezes para não acontecer novamente e fujo de lugares onde alguém resolve passar por cima de mim para pegar alguma coisa, pois a atração será fatal. Entro com o pé direto no campo de futebol e pego um pouco do gramado do campo para fazer o sinal da cruz. Hoje com os campos sintéticos eu faço o sinal da cruz com aquelas borrachinhas preta mesmo, acho que Jesus não vai se importar com a modernização dos tempos. Faço isso sem nenhuma superstição, é que não quero parecer o cara diferente da turma. Voltando ao início onde eu disse que sou quase um “sem superstição” vou falar da minha única superstição, que é não comprar carro de uma determinada cor. Uma vez fui a uma cartomante, claro que não acredito, fui para conhecer como é, e ela me recebeu vestida com roupa colorida e um baita sapato vermelho de salto altíssimo. Na conversa inicial sentado frente a frente antes da consulta, ela me explicou que o sapato tem poder e que ela aponta o bico dele para a pessoa que ela conversa para mostrar o poder dela (eu me desviei algumas vezes da ponta do sapato durante a conversa, devo confessar). Fica a dica aqui para as amigas leitoras, aponte o sapato para seus oponentes. Entre diversas coisas que a mulher previu, acertou muito por sinal, ela me disse que a determinada cor não combinava comigo. E a partir desta data, passei a evitar comprar o carro com a cor que ela me disse. Essa é minha única superstição. Não tenho mais nenhuma. E você? Tem alguma? Pula sete ondas? Usa peças de roupa íntima colorida na virada do ano? Coloca folha de arruda na carteira? Usa pé de coelho? Manda barco para Iemanjá? Tem moedinha da sorte? Tava pensando aqui... 

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